domingo, 10 de maio de 2009

Gatos Pardos da noite teresinense: Histórias da prostituição no centro da cidade


Textos e fotos: Jadson Osório

De dia o centro de Teresina vive o ritmo frenético do comércio. Barracas e pessoas se amontoam pelas ruas, o trânsito é confuso, os carros e ônibus se arrastam. À noite o centro é bem mais calmo, o movimento fica restrito apenas a alguns bares e pontos GLS. E é este cenário que serve de plano de fundo para a prática de outra forma de comércio, a prostituição. A equipe de reportagem do Aprendizes.com acompanhou a noite da agitada prostituição teresinense.

Cedo da noite já é possível perceber a movimentação de profissionais do sexo. Esquinas e becos são disputados por travestis em busca de dinheiro “fácil”. Edson de Sousa, vulgo Sasha Montenegro, é travesti há dois anos e há três meses se prostitui pelas ruas da cidade. “Eu não venho obrigada, venho porque gosto”, afirma o travesti.

O movimento, segundo Sasha, aumenta a partir das 22h, quando os alunos das faculdades vão para casa e os clientes têm maior liberdade para se aproximar. Ela diz ainda, que seus clientes têm um perfil variado “Às vezes temos a sorte de pegar um homem bonito, mas na maioria são feios. Dia desses sai com um deus grego, me pagou bem. Me senti a Gisele ao lado do Gianechini. Mas, pego o que vier!”, exclamou.

Antônio Marcelo, 34 anos, é o travesti Sabrina di Biase. Ele faz programa na noite teresinense desde 2004. Já trabalhou em São Paulo
como Office boy e balconista, dentre outras coisas. Ao ser demitido de um emprego, decidiu se prostituir. “Comecei cedo a ser travesti, mas não sabia que ia me transformar em profissional do sexo. Conheci a avenida e gostei. Paga minhas contas!”, diz Sabrina.

Sabrina conta que já sofreu muito na rua. “Já levei revolver na cabeça, já levei tiro. Marginais já deram carreira em mim, jogaram ovo, bomba. Já sofri muita agressão não só de homens, mas de mulheres também”, desabafa. Ela explicou ainda que só “faz ponto” as quartas, sextas, sábados e domingos, dias em que ela diz ter mais movimento. "Hoje faço isso por dinheiro apenas."

Stefany Amábili (não revela o nome verdadeiro) é uma das mais antigas na profissão, está há mais de dez anos na “rua”. Fez até o terceiro ano do curso pedagógico, fala bem. Já morou na Europa e conta: “Desde criança queria ser travesti. Juntei o útil ao agradável. Fui pra Itália, botei peito, fiz meu corpo. Tem bicha que vai pra lá iludida, pensando que vai ganhar muito dinheiro. Lá passei fome e frio. Não era fácil tinha que pagar para trabalhar.”

Stefany diz gostar de ser travesti, mas mostra-se indignada com o tratamento que recebe por parte da sociedade. “Pago meus impostos, mereço ser bem tratada. Tenho direito como todo mundo.”, esbraveja. A respeito de sua clientela ela é enfática: “Não pergunto se é casado ou solteiro. Estou aqui para satisfazer meus clientes”, e diz mais, “tenho cliente deputado, juiz, vereador, bancário. Quando não venho pra cá, eles me ligam e nós saímos”.

Perguntada se usa drogas, ela discursa: “Já usei, hoje não faço mais. Mas tem muito travesti aí que sai por R$ 5 só pra comprar pedra, é por isso que não somos valorizadas. As pessoas generalizam muito. E a classe fica desvalorizada. Ninguém vê um travesti trabalhando no comércio, na assembléia, na câmara. Somos muito discriminadas.”

Além de ter morado na Europa, a travesti já morou no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília e também afirma ter sofrido muito. “Travesti não é só colocar uma saia curta, silicone, cabelão. Ser travesti é ter sangue no olho. Temos que estar preparadas pra tudo. É difícil”, conclui a Stefany, que além de se prostituir também é cabeleireira.

Um comentário:

  1. Oportuna abordagem. Essas que são figuras alegres e justamente por isso tomados por vulgares,não tem chance de demonstrar o quão gente, humanos são.A realide deles, de fato, bem ex(posta).

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